SOJA: Brasil negocia com China permissões para exportação de farelo

Porto Alegre, 12 de novembro de 2018 – Uma missão do governo do Brasil e
de integrantes do setor privado esteve na China na última semana para negociar
a habilitação de unidades brasileiras produtoras de farelo de soja, visando a
exportação do derivado da oleaginosa ao gigante asiático, disse o presidente
da associação Abiove nesta segunda-feira.

O processo de habilitação é um primeiro passo para o Brasil poder
exportar, no futuro, farelo de soja para a China, que atualmente concentra suas
importações no grão brasileiro.

Para os chineses, argumenta a Abiove, que representa as principais empresas
do setor, seria importante contar com uma oferta adicional do país
sul-americano, especialmente neste momento em que Pequim está em guerra
comercial com os Estados Unidos.

Atualmente, cerca de 80 por cento da soja exportada pelo Brasil vai para a
China, que por questões de políticas internas e de segurança alimentar quer
processar o grão internamente.

Com eventuais embarques de farelo de soja, o Brasil conseguiria
diversificar suas exportações à China, ao mesmo tempo em que garantiria bom
mercado para o derivado, cuja oferta tende a crescer com o aumento do
esmagamento da oleaginosa para a produção de biodiesel, cuja mistura no diesel
vai aumentar no próximo ano.

“Querer exportar farelo para a China é uma coisa totalmente nova… É
um processo de ir acostumando o governo chinês com a ideia de que nós temos
interesse em vender farelo para eles. A China não compra farelo, ela esmaga
toda a soja e produz o farelo localmente”, disse à Reuters André Nassar,
presidente da Abiove, que integrou a missão à China na última semana.

Segundo ele, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, voltou a tocar no
assunto com representantes do governo da China.

“O nosso processo é devagar, tem que dizer para os chineses que temos
interesse… O Blairo falou isso novamente… o Brasil vender farelo é
importante neste momento em que a China está em contencioso com os EUA,
tem todo um racional que tem que ser construído”, acrescentou Nassar.

Ele disse ainda que o Brasil está tentando aprofundar as relações
comerciais com a China, mostrando que a compra de farelo do Brasil seria uma
contrapartida importante para uma indústria que abastece o mercado chinês com
grão.

Nassar não quis estipular um prazo para o Brasil eventualmente conseguir
exportar farelo aos chineses.

“Não teve grandes conclusões do meu assunto.”

Segundo ele, a habilitação das unidades produtoras pela China teria que
ser obtida antes de o Brasil começar a negociar uma cota para exportar farelo
em melhores condições tarifárias.

“Não adianta muito discutir cota enquanto não tiver sinalização
positiva do governo chinês sobre a autorização das plantas.”

Contudo, mesmo uma tarifa de 5 por cento para a importação de farelo de
soja imposta pela China não seria impeditivo para o Brasil exportar aos
chineses, segundo Nassar, até porque a taxa sobre importação de óleo de soja
é de 9 por cento e ainda assim as empresas brasileiras conseguem vender o
produto.

No ano passado, a China importou 335 mil toneladas de óleo de soja do
Brasil, segundo dados do governo.

“Não é uma questão de potencial, é mais diversificar, adicionaria
valor nas exportações, isso geraria mais investimento em esmagamento, e temos
o biodiesel que está crescendo a demanda, falta a ponta do farelo para
estimular mais”, completou Nassar.

Ele disse que o Brasil não quer inundar o mercado chinês de farelo, mas
complementar a demanda chinesa em momentos como o atual, no qual a China
está em disputa comercial com os Estados Unidos e reduziu compras do grão
norte-americano.

A compra de mais farelo poderia eventualmente reduzir a pressão de preços
sobre a soja em grão no Brasil, uma vez que os chineses poderiam fazer uma
parte dos negócios em farelo.

As informações partem da Reuters Brasil.

Revisão: Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS